
Domingo passado, aconteceu a corrida Ímpar da minha vida, o auge da minha curta carreira de corredor de rua. Dois anos e meio me preparando, sendo quatro meses de preparação específica para a Mítica Maratona. Maratona de São Paulo...
... quando entrei para a MPR, meu professor Emerson perguntou: - São Paulo? Prova muito dura, acho melhor estrear em Buenos Aires que é plana, clima ameno;
Oxe, um alagoano cabra macho com medo? 42 km são iguais independente de onde é! Foi o que pensei. Vou treinar para mostrar para ele que quem manda aqui sou eu!
Os treinos, apesar de duros, foram feitos e me julguei capaz de terminar em 3h30, uma meta arrojada, julgando o pace médio de 5:00/km.
Na quinta que antecedeu a prova, o professor me mandou a estratégia da corrida; os ritmos, a nutrição, hidratação, hora do gatorade. Tempo final estimado: 3h22????? Poxa, esse cara tá confiando em mim, isso melhorou muito minha auto-confiança.
No dia da prova, cheguei, aqueci, encontrei o Marcus Belda, que fez os 25 km, e fomos para a largada.
18.000 corredores, nunca vi tanta gente com tênis ao mesmo tempo.
Li várias vezes sobre os estágios que um corredor passa durante uma Maratona, vou falar um pouquinho sobre alguns que passei.
1- Excitação: Começou a prova e pensei: É isso aí garoto, você treinou muito duro, agora é só a coroação, vamos lá. Fui assim até o km 5. Após isso, olhava para as placas de quilometragem e pensava: caraca ainda faltam 35 km. Ao longo do percurso, fui realizando a nutrição e hidratação de acordo com a estratégia.

2- Negação (18-20 km): O ritmo estava se mantendo bem, mas a frequência cardíaca começou a subir para manter o ritmo, pensei: isso não é nada, estou me sentindo bem. Continue assim (teste de caminhada de 6 minutos. hahahaha).
3-Abalo/Isolamento(21-25 km): Comecei a perceber que poucas pessoas estavam correndo junto comigo, me perguntei: Ué, cadê a galera?. Ao entrar na Cidade Universitária, tinha o pórtico de chegada do 25 km, faltavam apenas 17 km para mim, sinal que estava chegando; mas quando olhei para o relógio, ele marcava 5:30/km. Como assim? Tava tão bom? Tentei entrar no ritmo estabelecido, mas não consegui. Então permaneci neste ritmo mesmo, para não quebrar.
4- O Muro: Se tem uma coisa verdadeira quando falam de correr uma Maratona, é o Muro. Sempre li e ouvi falar nesse tal de Muro, um determinado ponto da prova em que um cansaço absurdo surge do nada. Com três caminhos: Se bate nele e cai, Ou você o derruba e termina a prova bem; Ou faz tanto esforço para atravessá-lo, que fica sem forças suficientes para terminar bem.
No meu caso foi a última opção, e veio no Km 28. Do nada, um elefante subiu nas minhas costas e com ele vieram as câimbras, que acompanharam até o último passo. Ainda consegui manter o ritmo até o km 33, quando não aguentei e comecei a andar pela primeira vez. Quando isso aconteceu, escutei várias vezes: - Vamos lá garoto, a corrida tá começando agora.
Apesar de alternar corrida com caminhada, consegui correr adequadamente, mas as pernas estavam doendo muito.

5- Afirmação (37-41 km): A partir do km 37, foi um jogo mental. Eu exercitei da forma mais intensa de como a mente pode comandar o corpo. Nessa hora eu apenas andava, quanto tentava correr não conseguia. O corpo pedia para parar, mas eu não deixava. Eu me recusava a desistir. As dores nas pernas eram fulminantes, e atingia todos os músculos das pernas. Mesmo assim eu fui seguindo. Na minha cabeça eu ia terminar nem que fosse engatinhando.
Quando passei da placa de 41 km, veio uma câimbra em todos os músculos das duas pernas, se não houvesse um cavalete ao lado eu tinha caído. Na hora eu só pensava em todos que me deram forças.
Como estava perto da chegada, muitas, mas muitas pessoas começaram a gritar meu nome, mandando não desistir, falando que a dor era passageira, nessa hora a torcida deles me deu forças e eu consegui recomeçar a correr, e correr e correr. De repente o cansaço acabou e quando olhei para frente, a chegada.
6- Exaltação: Caraca! Consegui!!!!! Quando passei pela linha de chegada, o tempo era de 4h18, mas o tempo não importava. Pensar que consegui correr 42 km foi uma sensação de vitória indescritível. Após passar pela chegada, as pernas falharam e eu caí. Fiquei 5 minutos sem conseguir me levantar, mas o dever foi cumprido.
Agora eu posso falar que sou um Maratonista!!!!
Quando cheguei na tenda da MPR um colega vendo meu estado perguntou: - E aí garoto, essa vai ser a última ou a primeira?
Eu: - Tô pronto para a próxima!
Ele: -É, você é um corredor...
Eu pensei: Eu sou mesmo!
Ano que vem planejo fazer uma Maratona plana, Porto Alegre ou Buenos Aires, para ver ser consigo fazer as 3h22. Essa semana será de descanso, mas segunda o tênis vai estar no asfalto mais uma vez.
Até a próxima.
Running Free BR!!!!!